Opinião: Da exclusividade à multiplicidade religiosa em Portugal, por Sérgio Carvalho

Nos últimos anos, temos assistido a uma mudança de paradigma no nosso país. De um país de maioria católica, onde, em muitas regiões, o catolicismo era mesmo a única religião, passamos a conviver com uma realidade diferente, onde a exclusividade deu lugar à convivência e coexistência de vários credos e comunidades religiosas.

Vemos por exemplo, a iniciativa que decorreu em junho, na freguesia de Priscos, no distrito de Braga – a Aldeia das Religiões, onde havia mais de 40 denominações religiosas presentes, mostrando um Portugal plural a nível confessional.

Vejo isso mesmo, na minha atividade profissional, como professor de Educação Moral e Religiosa Católica em dois colégios católicos do Porto. Se há mais de vinte anos quase todos os alunos eram batizados na Igreja Católica, hoje tenho uma multiplicidade religiosa ou até indiferente ao fenómeno religioso.

A Igreja Católica, desde o Concílio Vaticano II, com a aprovação dos documentos Nostra aetate (sobre a relação da Igreja com as religiões não cristãs) e Unitatis reintegratio (sobre o ecumenismo e a relação da Igreja com as outras comunidades cristãs), abriu-se ao diálogo inter-religioso e ecuménico, permitindo que as escolas católicas pudessem receber alunos de outras confissões religiosas.

Nas minhas turmas, a diversidade religiosa é enorme. Tenho alunos de várias comunidades eclesiais cristãs: evangélicos de várias denominações, ortodoxos gregos ou russos e greco-católicos bizantinos. Mas, também, judeus, muçulmanos xiitas e sunitas, hindus, budistas, espíritas e de religiões afro-brasileiras. Muitos há que não têm nenhuma confissão religiosa. Outros declaram-se agnósticos ou ateus.

Aqui entra a importância do estudo e conhecimento sobre as diversas religiões e formas de viver uma fé. No final do ano letivo, foram muitos que, sendo desafiados a salientar algo de positivo e importante da disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica, referiram que adoram conhecer as outras religiões e passaram a ver os colegas e pessoas que acreditam numa fé diferente ou a praticam de outra maneira, com mais respeito porque já compreendiam o porquê de muitas das suas atitudes, hábitos e costumes.

Esta multiplicidade só nos enriquece, pois desafia-nos a aprofundar os fundamentos da nossa fé. Estar em contacto com algo que é diferente daquilo que fazemos e dizemos acreditar pode ser muito enriquecedor, levando ao desenvolvimento de atitudes de tolerância e respeito mútuos.

O desconhecimento e a ignorância levam ao medo e ao preconceito por aqueles e aquilo que é diferente de mim ou daquilo que faço. Se queremos um país tolerante e respeitador dos direitos de todos há que promover o conhecimento e o estudo das Religiões, e a disciplina de Educação Moral e Religiosa é uma grande oportunidade que é oferecida a todos, seja nas escolas católicas, seja nas escolas públicas onde a sua frequência é facultativa.

Empenhemo-nos em conhecer o mundo que nos rodeia! Pois, o Espírito de Deus, assim como o vento, sopra onde quer e em quem quer, como dizia Jesus no seu diálogo com Nicodemos, registado no evangelho segundo São João, na Bíblia. Estes são mesmo novos tempos….

 

Sérgio Carvalho

Professor e Jornalista



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