Grupo VITA aposta em ações de «capacitação» e «sensibilização»

Estrutura independente recebeu 105 queixas de vítimas de abuso na Igreja no último ano

O «Grupo Vita», criado para acompanhar as situações de violência sexual dentro da Igreja Católica em Portugal, apresentou hoje o seu relatório anual onde deu conta de ter recebido “485 chamadas telefónicas”, e sinalizou “105 alegadas vítimas de crimes sexuais no contexto da Igreja”.

Constituído por uma equipa “multidisciplinar”, o «Grupo Vita» atendeu “64 pessoas”, durante este período com clara prevalência geográfica para o norte e centro do país.

“Podemos verificar que as vítimas são escolarizadas, com prevalência do ensino secundário e superior”.

O relatório mostra um perfil de agressor que “frequentemente utilizava a religião como uma ferramenta de controlo e justificação para as suas ações".

“A intimidação e o medo eram métodos centrais para as manter submissas e em silêncio", revelou Rute Agulhas, a coordenadora do Grupo Vita.

Com uma prevalência de casos de abuso ocorridos maioritariamente na Igreja as vítimas são, maioritariamente, do sexo masculino.

“A maior parte das situações no contexto da Igreja aconteceram, sobretudo, no confessionário, seguido da sacristia. Para 16 vítimas, as situações abusivas ocorreram na casa do padre, no seu carro, no seu gabinete, na sua casa de férias ou na casa paroquial. Com sete vítimas, os comportamentos abusivos ocorreram no Seminário", acrescentou Rute Agulhas.

Ao longo do período em análise o «Grupo Vita» notificou 24 casos à Procuradoria-geral da República (PGR) e à Polícia Judiciária.

Sensibilizar, formar e capacitar

Durante a sessão de apresentação do relatório de atividades os responsáveis do «Grupo Vita» destacaram a necessidade de existir em Portugal “uma estrutura que acompanhe e apoie as vítimas de abuso”, e consideraram ser este o tempo “para sensibilizar formar e capacitar” de modo que se crie “uma cultura de cuidado na Igreja”.

"Sentimos necessidade de haver uma estrutura nacional especializada em situações de violência sexual que atenda crianças, jovens, mas que atenda também adultos", afirmou a psicóloga Rute Agulhas.

No «Grupo Vita» a responsável deu conta do desenvolvimento de “várias frentes de ação, pois o nosso trabalho deve procurar sensibilizar e formar para a cultura do cuidado as estruturas da igreja”.

“Formar para criar um modelo em cascata de modo que as várias estruturas possam capacitar outros”.

Dando conta do contacto com mais de mil e setecentas pessoas, fruto de 19 ações dirigidas a dirigentes dos escuteiros, profissionais de escolas católicas, professores de Educação Moral e Religiosa Católica, catequistas e membros do clero, e a organismos públicos, o «Grupo Vita» deu conta da existência de “alguns projetos de investigação” que visam “trazer conhecimento académico e evidencia empírica para repensar as práticas preventivas e interventivas”.

Sob orientação científica de docentes e investigadores da UTAD - Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e do Instituto Universitário de Lisboa decorrem várias investigações.

“«Crenças sobre o abuso sexual infantil e a intenção da prevenção do abuso sexual em professores de educação moral religiosa e católica», «Vivências do celibato no contexto da Igreja Católica em Portugal: Um estudo quantitativo com seminaristas, diáconos, padres e religiosas» e «A prevenção do abuso sexual, numa amostra de catequistas: Avaliação de necessidades e crenças sobre a problemática»”.

Em preparação está já o «Programa Girassol», para uma prevenção primária dos abusos e um jogo interativo, o «Lighthouse Game», para crianças dos 10 aos 14 anos.

Na apresentação do relatório Rute Agulhas deu conta do aprofundamento de contactos com “equipas congéneres nos Estados Unidos da América e na Irlanda”.

Dentro de dias o «KIT Vita», criado “da ideia de um professor de EMRC”, vai estar disponível no site desta organização.

“Quisemos criar um recurso muito prático que ofereça um roteiro de formação, organizado por módulos, por temas, com atividades práticas”, indicou a responsável.

O Kit irá ajudar a organizar e estruturar a informação, e dar “dicas” sobre “o tipo de exercícios ou de dinâmicas" que podem ser realizadas em ações diversas.

Para novembro o «Grupo Vita» compromete-se a apresentar “o terceiro relatório de atividade” onde vai dar a conhecer o resultado “da maioria dos estudos de investigação” e fazer um balanço “das compensações às vítimas”, cujos procedimentos “vão ser conhecidos nos próximos dias”.

Presente na sessão, e já no período de questionamento, Fernando Moita, diretor do Secretariado Nacional da Educação Cristã (SNEC), agradeceu publicamente ao «Grupo Vita» o trabalho desenvolvido ao longo do ano “com a educação cristã em Portugal”.

“Obrigado pela colaboração que realizastes, desde a primeira hora, ajudar os educadores cristãos, professores de EMRC, catequistas, profissionais das escolas católicas, a fazer a diferença a este nível nos locais onde trabalham. A vossa disponibilidade para connosco foi total e fez e fará a diferença. Estamos em estreita colaboração. Obrigado”, completou.

Educris|18.06.2024



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