«A Doutrina Social deve estar na base da sociedade atual», diz Pedro Abrunhosa

Músico portuense fez parte do Webinar «Diálogo(s) sobre a Educação, EMRC e a Liberdade» e destacou papel da disciplina de EMRC na escola

Pedro Abrunhosa, a celebrar os 30 anos do álbum «Viagens», foi um dos convidados do Webinar que ontem se realizou ao final da tarde integrado no programa da Semana Nacional da Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC) 2024.

“Só existe liberdade quando ela existe para o outro. A privação de liberdade dos mais fracos cinge a minha liberdade. Compete-nos a todos, os que temos a luz de dentro, distribuí-la aos demais. Esse trabalho espiritual, que é dos que se aplicam nas matérias do pensamento, do conforto, da contemplação, a distribuição do bem”, afirmou na ocasião.

Apresentando-se como “artista e não um entertainer”, Pedro Abrunhosa considerou que artistas e docentes de EMRC partilham o mesmo ideal que passa “por criar empatia e interioridade” e pugnar “pelo bem comum que é a maior declaração política que se pode fazer”.

“A prática do bem, a questão ética, é o que nos define. Vivemos um tempo em que temos de ter noção da fragilidade a que estamos sujeitos com tanto mal à solta”, sustentou.

Numa época em que “os nossos filhos podem ser tutoreados pelos telemóveis e redes sociais” o artista considerou ser fundamental a valorização do “tempo da contemplação da natureza, da entrega aos outros, do voluntariado, da prática cultural e da leitura”.

“O padre Vaz Pinto dizia que os filhos não obedecem, mas imitam e isso é bem verdade. Precisamos de olhar para o exemplo do Papa que nos pede uma educação onde o gesto, o coração e a cabeça são centrais”, desenvolveu.

Aprofundando a reflexão sobre “o valor da Liberdade”, Pedro Abrunhosa lembrou “que liberdade que o 25 de abril trouxe foi construída, muito à base da doutrina social da Igreja” e destacou o “papel da cultura e da arte”, enquanto expressão da “inutilidade” para as coisas práticas.

“A arte e a cultura não servem para aquecer em dias de inverno, mas são uma necessidade humana profunda que nos resgata do vazio de sentido e do escuro. Neste aspeto estamos próximos; os artistas e os que divulgam os valores como a liberdade e a palavra cristã”, assinalou Pedro Abrunhosa.

Por uma EMRC livre e sem preconceitos

Já Fernando Moita, Diretor do Secretariado Nacional da Educação Cristã (SNEC), considerou que a Semana Nacional da EMRC 2024 foi pensada para ser tempo de “ouvir e interpelar” sobre “a bela missão que é a educação”, partindo da janela da visão cristã que deseja “escancarar que é a EMRC”, para que esta seja “livre de preconceitos”.

“Neste meio século de caminhada enquanto povo queremos celebrar a liberdade que nos habita e não queremos deixar escapar das nossas mãos. Para nós cristãos a liberdade é dom de Deus, então podemos afirmar que a liberdade é impressa nos nossos corações pelo Deus que é libertador e pai”.

Para o também professor de EMRC as aulas de EMRC permitem experimentar a capacidade da escolha do bem sempre que “escolho o bem do outro, o bem maior para todos”, e ser “lugar de encontro de sentido””

“Obrigado aos docentes de EMRC. Sois os tecelões dos pés, mãos e dos corações dos mais novos, sempre com o olhar colocado no horizonte. A ti professor, e professora de EMRC o nosso abraço agradecido porque sem medo, livre, deixaste de ser gestor de medos e te tornas empreendedor de sonhos. Que grande arquiteto de humanidade te tornaste”, referiu.

A Escola tem falta de espaços de síntese

Também D. António Augusto Azevedo, presidente da Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé, agradeceu o trabalho dos docentes da disciplina e desejou que a disciplina “seja espaço de liberdade na escola”.

“Que a EMRC possa ser espaço e lugar de descoberta, encontro, crescimento de pessoas livres, pois hoje, porventura mais do que nunca, precisamos de ajudar a crescer cidadãos livres”.

“A escola deve ser espaço onde se aprende a conjugar a liberdade, a sua e dos outros. A liberdade de cada um cresce da exata medida da diversidade das pessoas, da sua proveniência e com as histórias”.

Para o também Bispo de Vila Real a presença da EMRC nas escolas de todo o país deve ser “espaço de descoberta e encontro de culturas”, partindo da sua matriz e tornando-se “laboratório de saberes”.

“Não nos interessa a moral pela moral, mas a moral enquanto exercício de reflexão ética. Hoje a escola tem falta de espaços de síntese. De lugares onde se escute os alunos e se ajude a colocar o saber e as tecnologias ao serviço do bem, do planeta e isso requer uma reflexão ética e moral”, desenvolveu.

A disciplina ajudou-me na compreensão do eu e dos outros

A psicóloga Sofia Fonseca recordou a sua experiência enquanto aluna de EMRC e considerou que a disciplina a ajudou “na compreensão do eu e dos outros, dos limites”.

“Sou mais livre porque na adolescência consolidei opções de ser e estar na vida; A disciplina tem potencialidade de promover a liberdade de pensamento dos alunos, do ser e transformação. As oportunidades temáticas aguçam a sensibilidade para questões”, acrescentou.

Para a psicóloga a EMRC deve fugir ao “endoutrinamento” e continuar a aposta “na reflexão à volta de um quadro comum de valores e do diálogo inter-religioso”.

Já a presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais, Mariana Carvalho, pediu uma “escola inclusiva que agregue a multiculturalidade” e desejou que os docentes de EMRC sejam, a par de outros professores, verdadeiros “encantadores de crianças e jovens”.

“Que a EMRC seja lugar de encontro e que de uma vez por todas se desmistifique o que verdadeiramente é a disciplina”, pediu aos presentes e desejando que “seja disponibilizada mais informação aos pais”.

O verdadeiro ensino religoso não busca o endoutrinamento mas o diálogo e o pensamento crítico

Presentes no Webinar Raquel Perez, Diretora do Secretariado da Comissão Episcopal para a Educação e a Cultura, da Conferência Episcopal Espanhola e Ernesto Diaco, Diretor do Serviço Nacional para a Educação, a Escola e a Universidade, da Conferência Episcopal Italiana, partilharam a experiência da disciplina em Espanha e Itália e alinharam pela mesma ideia de que a “religião nas escolas não procura a conversão” mas o “diálogo, a liberdade de pensamento crítico para colocar em diálogo fé e razão, diálogo inter-religioso e a casa comum”.

Os dois responsáveis consideraram que nos seus países “o ensino religioso contribui e soma ao modelo educativo que a sociedade nos pede. É importante estar nesse modelo e responder a partir da nossa especificidade”.

“No ensinamento do ensinamento católico a liberdade é forma e conteúdo. Falar de educação e liberdade é perceber que a relação educativa é um encontro de duas liberdades”.

A gratuidade da EMRC é um Dom

No final do encontro José Rui Teixeira, poeta, professor Universitário e Diretor do Colégio Luso-Francês, pediu “mais e melhor liberdade para a educação” num momento em que “a liberdade que abril garantiu é frágil e necessita de ser conquistada diariamente”.

“Devemos questionar muitos aspetos do que hoje presenciamos. Tenho, desde logo, receio da escola neutra! Necessitamos de liberdade de escolha do paradigma educativo e assistimos a uma excessiva burocratização sistémica da educação”.

Com longos anos de lecionação da EMRC o docente considerou que “este projeto” “tem condições naturais para ser instrumento ao serviço da luta por uma liberdade que promova a liberdade e o bem comum”.

“A posição que a disciplina ocupa na escola é interessante.  A sua gratuidade é dom assente numa educação personalista que interrompe o ciclo amorfista e amoral que enferma a escola, o relativismo”.

Lamentando a subsistência do “preconceito” e a “precariedade com que tem sobrevivido”, o pedagogo alertou que a “sua desvalorização” significará “um agravo na fatura do que já pagamos” pois com pior educação geraremos pior liberdade”.

“A EMRC pode ser uma interface, um espaço de ligação e uma ferramenta de salvaguarda da melhor reciprocidade entre educação e liberdade”, concluiu.

Amanhã, dia 30 de maio, a Semana Nacional continua, desta vez em Fátima, com a participação na oração do Rosário, no Santuário Mariano.

Educris|29.05.2024



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