Roma: Papa quer jovens a «sonhar em grande» e convida à participação na JMJ de Lisboa

Francisco recebeu ontem, no Vaticano, os participantes do encontro «Para a Educação pela Paz e pelo Cuidado». Aos jovens o Papa apresentou Francisco de Assis, São João XIII e Martin Luther King como "testemunhas válidas para o mundo de hoje", e desafiou os jovens a "sonhar alto" pela paz, deixando o convite à "Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa", onde estarão muitos jovens "unidos pelo sonho da fraternidade baseada na fé no Deus que é Paz"

 

Leia, na íntegra, o discurso do Santo Padre

Queridos meninos e meninas, queridos professores, bom dia e bem-vindos!

Alegra-me que tenham respondido com entusiasmo ao convite da Rede Nacional de Escolas para a Paz. Obrigado por terem vindo! E obrigado a todos aqueles que organizaram este encontro, especialmente ao Dr. Lotti.

Felicito-vos, alunos e educadores, pelo rico programa de atividades e formação que realizastes, que culminará com a Marcha Perugia-Assis em maio do próximo ano, onde tereis a oportunidade de apresentar os resultados do vosso trabalho e as vossas propostas.

Assis tornou-se hoje um centro mundial de promoção da paz, graças à figura carismática daquele jovem despreocupado e rebelde de Assis chamado Francisco, que deixou a sua família e riqueza para seguir o Senhor casando-se com a Nossa Senhora da Pobreza. Aquele jovem sonhador é, ainda hoje, fonte de inspiração no que diz respeito à paz, à fraternidade, ao amor aos pobres, à ecologia, à economia. Ao longo dos séculos, São Francisco fascinou muitas pessoas, assim como me fascinou também a mim que, como Papa, quis tomar o seu nome.

O vosso programa educativo "Pela paz, cuidando" quer responder ao apelo a um Pacto Educativo Global, que há três anos fiz a todos os que trabalham no campo da educação, para que "se tornem promotores dos valores cuidado, paz, justiça, bondade, beleza, aceitação do outro e fraternidade" (Vídeo mensagem de 15 de outubro de 2020). E alegro-me por ver que não só as escolas, universidades e organizações católicas respondem a este apelo, mas também as instituições públicas, seculares e de outras religiões.

Para que haja paz, como bem diz o vosso lema, é preciso "cuidar". Muitas vezes falamos de paz quando nos sentimos diretamente ameaçados, como no caso de um possível ataque nuclear ou de uma guerra travada à nossa porta. Assim como nos interessam os direitos dos migrantes quando temos parentes ou amigos que emigraram. Na realidade, a paz diz-nos sempre respeito, sempre! Como sempre, diz respeito ao outro, irmão e irmã, e devemos cuidar dele e dela.

Um modelo de cuidado por excelência é aquele samaritano do Evangelho, que resgatou um estranho que encontrou ferido no caminho. O samaritano não sabia se o infeliz era bom ou mau, rico ou pobre, educado ou ignorante, judeu, samaritano como ele ou estrangeiro; não sabia se aquele infortúnio "estava a pedi-las" ou não. O Evangelho diz: «Viu-o e teve compaixão dele» (Lc 10,33). Viu e teve compaixão. Outros, antes dele, também viram aquele homem, mas seguiram o seu caminho. O samaritano não se fez, a si mesmo, muitas perguntas, mas seguiu o movimento da compaixão.

Também no nosso tempo podemos encontrar testemunhos válidos de pessoas ou instituições que trabalham pela paz e cuidam dos necessitados. Pensemos, por exemplo, naqueles que receberam o Prémio Nobel da Paz, mas também nos muitos desconhecidos que silenciosamente trabalham por esta causa.

Hoje gostaria de recordar duas figuras que testemunham. A primeira é São João XXIII. Foi chamado de "Papa Bom", e também de "Papa da Paz", porque naqueles difíceis inícios da década de 1960, marcados por fortes tensões - a construção do Muro de Berlim, a crise de Cuba, a Guerra Fria e a ameaça nuclear - publicou a famosa e profética encíclica Pacem in terris. No próximo ano completará fará 60 anos da sua publicação, e permanece tão atual! O Papa João dirigiu-se a todos os homens de boa vontade, pedindo a solução pacífica de todas as guerras através do diálogo e do desarmamento. Foi um apelo que recebeu grande atenção no mundo, muito além da comunidade católica, porque havia captado uma necessidade de toda a humanidade, que ainda hoje permanece. É por isto que vos convido a ler e estudar a Pacem in terris e a seguir este caminho para defender e difundir a paz.

Poucos meses depois da publicação daquela Encíclica, outro profeta do nosso tempo, Martin Luther King, Prémio Nobel da Paz em 1964, fez o discurso histórico no qual disse: "Eu tenho um sonho". Num contexto americano fortemente marcado pela discriminação racial, a todos fez sonhar com a ideia de um mundo de justiça, liberdade e igualdade. Disse ele: "Eu tenho um sonho: que os meus quatro filhos pequenos um dia vivam numa nação onde não serão julgados pela cor da sua pele, mas pela dignidade da sua pessoa".

E vós, rapazes, raparigas: qual é o vosso sonho para o mundo de hoje e de amanhã? Encorajo-vos a sonhar grande, como João XXIII e Martin Luther King. Convido-vos, pois, a participar na Jornada Mundial da Juventude no próximo ano, que celebraremos em Lisboa. Quem puder vir encontrará muitos outros rapazes e raparigas de todo o mundo, unidos pelo sonho da fraternidade baseada na fé no Deus que é Paz, Pai de Jesus Cristo e nosso Pai. E se não puderes vir fisicamente, convido-te ainda a acompanhar e participar, porque, com os meios de hoje, isso é possível.

Desejo a todos um bom caminho no tempo do Advento que ontem iniciamos: um caminho feito de muitos pequenos gestos de paz, todos os dias: gestos de acolhimento, encontro, compreensão, proximidade, perdão, serviço... Gestos feitos com o coração, caminhando rumo a Belém, rumo a Jesus que é o Rei da paz, aliás, que Ele mesmo é a paz.

O poeta Borges termina, ou melhor, não termina um de seus poemas com estas palavras: "Quero agradecer... a Whitman e a Francisco de Assis que já escreveram este poema, pelo facto deste poema ser inesgotável e a soma das criaturas e nunca chegará ao último verso e muda conforme os homens”. Que também vós, rapazes e raparigas, acolhei o convite do poeta para continuar a sua poesia, acrescentando cada um o que lhe agrade, o que lhe apetecer. Que cada um de vós se torne um "poeta da paz"! Tornem-se poetas da paz: entenderam? Poetas da paz.

Obrigado por ter vindo! Abençoo a todos de coração. E, por favor, orai por mim. Obrigado

Imagem: Vatican MEDIA

Tradução Educris a partir do original em Italiano

29.11.2022



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