Comissões Episcopais da Espanha, Itália e Portugal analisaram «ministério do catequista»

Responsáveis sublinham importância do “caminho comum” e da “partilha de experiências” nas igrejas locais num momento de transição na cultura europeia

Terminou hoje, em Lisboa, o II Encontro das Comissões Episcopais da Catequese de Espanha, Itália e Portugal. A iniciativa que analisou o ministério do Catequista e os desafios para a evangelização da Igreja no sul da Europa destacou a necessidade “um processo sinodal”, em “rede” para dar “respostas novas a desafios novos”.

“Deparamo-nos com muitos desafios e é necessário realizar um trabalho em rede. Temos de trabalhar em conjunto para podermos iniciar um caminho em comum para ajudarmos os catequistas a realizarem bem a sua missão” explica ao EDUCRIS D. António Moiteiro, bispo de Aveiro e presidente da Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé (CEECDF).

Reunidos, pela primeira vez em abril passado na cidade de Madrid, em Espanha, os responsáveis do sul da Europa contam com o apoio do Dicastério para a Evangelização.

“Apresentámos esta ideia, em setembro passado ao pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização, o arcebispo D. Rino Fisichella, que nos tem dado apoio e acompanha de perto os trabalhos”, garante o responsável português.

Mudar a ideia de que “os sacramentos são celebrações de despedida”

D. José Rico Pavés, bispo de Asidonia-Jerez e presidente da Comissão Evangelização, Catequese e catecumenado de Espanha (CECC) destaca a importância “de partilhar o que vamos fazendo em cada país” numa “altura de profunda mudança”.

“Esta partilha permite-nos enfrentar os desafios da catequese que são similares em várias partes do mundo, numa altura de profunda mudança”.

Refletindo sobre a realidade espanhola o presidente da CECC dá conta de “um processo de trânsito” e considera fundamental “ultrapassar, internamente, a ideia de que a catequese está vinculada a um sacramento”.

“Estamos num processo de trânsito. A ideia de cristandade está hoje ultrapassada. Partimos de um lugar onde a catequese ainda está marcada pelo ritmo escolar e onde se vincula a catequese a um sacramento. Sem querer transmitimos aos fiéis a ideia de que os sacramentos são celebrações de despedida”, lamentou.

Para o responsável é fundamental “saber transmitir a ideia de que a catequese faz parte de um itinerário para formar cristãos” e dá conta de uma Comissão Episcopal “plenamente empenhada em mudar este paradigma”.

Perante o “reconhecimento que significa tornar o ser catequista um ministério instituído”, o prelado alegra-se pelo “reconhecimento da função eclesial que desenvolvem os catequistas” e destaca a “função dos que serão instituídos no país vizinho”.

“A Conferência Episcopal Espanhola considera que estes catequistas hão-de ser coordenadores de outros catequistas e serão formadores de catequistas não instituídos”.

A realidade da Igreja em Espanha: Largar os critérios do mundo

Pertencendo a uma Igreja local que tem enfrentado várias crises nos últimos anos, D. José Rico Pavés considera que o caminho passa “pela reconversão interna” e por uma abordagem “amável” para com todos acerca “da verdade de Jesus e do seu evangelho”.

“Há uns anos fizemos um diagnóstico, na Conferência Episcopal Espanhola, e concluímos que o principal problema está dentro. Chama-se secularização interna. Perdemos o ardor na transmissão da fé. A integridade e o modo como habitamos o mundo. Vamo-nos conformando aos critérios do mundo e abandonamos o Evangelho”, considera.

Perante várias situações que parecem querer colocar a igreja “fora a esfera pública”, o prelado deu conta da existência de “um laicismo beligerante, em algumas zonas, que pretende desterrar dos espaços públicos, da escola e da família, toda a experiência religiosa”.

“Temos aí um desafio que passa, desde logo, por sermos capazes de anunciar o evangelho de modo amável. Mesmo os que nos querem rejeitar, só preencherão os seus anseios em Jesus e no seu evangelho. Só aí encontrarão a sua paz” conclui.

Trazer a riqueza do catecumenato para a catequese dos mais novos

Também presente no II Encontro o padre Jourdan Pinheiro, responsável pelo Setor para o Catecumenato na Conferência Episcopal Italiana (CEI) falou ao EDUCRIS acerca desta experiência que junta três organismos da Igreja.

“Esta é uma mudança que se faz com muita esperança. Tivemos, desde a primeira hora, a possibilidade de livremente nos escutarmos, com poucas teses, mas com muitas experiências que nos enriquecem. Os ‘tempos’ diferentes de cada igreja são sempre oportunidade para um novo olhar”.

Centrando o seu trabalho no Catecumenato de Adultos, em Itália,  o responsável deu conta do caminho que se tem vindo a percorrer.

“Hoje, em Itália, temos para toda a catequese um parâmetro claramente de inspiração catecumenal. Não se trata de uma interpretação rígida, mas do desafio de estar atento. Quando nos aproximamos aos mais novos fazemo-los participantes de um itinerário em comunidade. Recebem um primeiro anúncio, na comunidade e em família, que decorrerá com pequenas expressões de serviço, de palavras e de oração, numa oração específica”, explicita.

Para o responsável é fundamental que “cada um vá avançando neste itinerário d acordo com as suas capacidades”, mais do que através de “estruturas rígidas e escolarizadas”.

“A transmissão da fé, a sua assunção em cada um tem mais a ver com o tempo necessário para interiorizar do que com a necessidade de realizar tudo rapidamente. Trata-se de acompanhar, ajudar a fazer brotar em cada um aquilo que o Senhor fará nascer, e isso leva o seu tempo”, completa.

No encontro, e para além de D. António Moiteiro, presidente da CEECDF, D. José Rico Pavés, bispo de Asidonia-Jerez e presidente de la CEECC, de Espanha e Jourdan Pinheiro, responsável pelo setor para o catecumenato de Itália participaram o sacerdote Francisco Romero Galván, diretor do Secretariado da CEECC, de Espanha e  María Molina, responsável pelo departamento das publicações da CEECC de Espanha. De Portugal estiveram presentes Fernando Moita, diretor do Secretariado Nacional da Educação Cristã, de Portugal, e a irmã Maria Arminda Faustino, Coordenadora do Departamento da Catequese no SNEC.

Educris|07.03.2023



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