Cuidado de Menores: «É preciso gerar redes de confiança», Rodrigo Queiroz e Melo

I Jornada de formação de catequistas do Patriarcado de Lisboa reuniu mais de uma centena de agentes e párocos e apelou à criação de um “Sistema de proteção e cuidado” em cada comunidade paroquial

«O Cuidado de menores na Catequese» foi o tema central da iniciativa que contou, no passado sábado, com o CUIDAR (projeto do CEPCEP-UCP) e o Sistema de Proteção de Cuidado da Companhia de Jesus (Jesuítas).

Rodrigo Queiroz e Melo, jurista, Sofia Marques, Coordenadora executiva do projeto CUIDAR, e o padre José Maria Brito SJ foram os oradores de uma sessão formativa marcada pela “informação e prática” e pela necessidade de menorizar “riscos que existem em todas as dimensões e que exigem que se criem redes de confiança e atenção”.

“O foco da ação não deve estar na questão do abuso, mas no modo como este mal absoluto, acontecendo em qualquer lugar, pode também acontecer num lugar como a catequese”, explicou Rodrigo Queiroz e Melo.

O especialista convidou os catequistas a “desmistificar a figura do abusador, nas suas diferentes formas”, para que a “prevenção, atenção e ação” possam ser efetivas.

“A primeira coisa devemos perder é a de que o abusador tem ‘cara disso’. Ser abusador implica conquistar a confiança. Muitas vezes, implicitamente, pensamos que o diabo aparece de chifres e de capas. Mas os abusadores são fantásticos. Temos que encontrar um novo equilíbrio para balancearmos a presunção de inocência e o relato das vítimas de modo a não as vitimizarmos duplamente”, apelou.

Respeitar e reconhecer a dignidade de cada pessoa

Para o padre José Maria Brito SJ é importante ir “discernindo o exercício do cuidado enquanto educadores”, de modo a “nos tornarmos capazes de identificar e reconhecer a dignidade do outro”, pois só assim “se é capaz de acolher e respeitar integralmente cada pessoa”.

“O acompanhamento do outro pressupõe a capacidade de perceber que o cuidado tem de ser total. Colocar-me diante de outro como quem está perante alguém sagrado. O respeito total pela sua unicidade. A cura personalis, implica o cuidado, a liberdade, a confiança a abertura para o outro”, garantiu.

Criar Mapa de Riscos

Sofia Marques desafiou os catequistas a “estarem atentos aos sinais de maus-tratos” e a olhar “com cuidado para os menores que estão connosco”.

“Hoje é preciso criar um mapa de riscos na catequese que preveja e ative medidas de proteção, de segurança para a criança e para o jovem. O foco tem de estar na criação de uma regra que aplicada a todos, a todos protege”, apelou.

Para a responsável pelo CUIDAR, uma rede como a catequese deve “cuidar também da passagem de informação sobre as pessoas que passam de um lado para o outro” e reforçou a ideia de “todos os que trabalhamos com crianças e jovens temos o dever moral, e legal, de apresentar o nosso registo criminal atualizado”.

No final a especialista convidou os catequistas e paroquias a adotar um “documento onde seja explicito os comportamentos a adotar e promover, as atitudes e comportamentos a evitar e os que são, de todo proibidos”.

“A mais-valia de um documento deste tipo é saber o que é esperado de nós. Quando sou o voluntário e não sei o que me é pedido corro mais riscos e posso por outros em risco”, completou.

Da parte da tarde os catequistas e párocos abordaram “casos práticos” e modos de intervenção concertada em comunidade.

Educris|08.02.2022



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