CEP/Bíblia: Comissão lança nova tradução do livro do Apocalipse

Apocalipse, a palavra grega para revelação, surge "no contexto de uma Igreja em dificuldades"

A Comissão que coordena a nova tradução da Bíblia da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) acaba de disponibilizar o texto provisório do livro do Apocalipse, o último presente do Novo Testamento cristão.

Recebendo "como nome a primeira palavra do texto, apocalipse, que significa revelação", a obra "corresponde a um estilo literário bíblico" já presente "no Antigo Testamento".

"Este género literário já se encontra presente no Antigo Testamento. Tendo nascido em contextos de grave crise social e religiosa, a apocalíptica judaica desenvolveu-se de forma particular a partir do período pós-exílico, apresentando a sua maior expressão durante a ocupação grega da Judeia, por Antíoco IV Epifânio (entre 175-164 a.C.)2, explicam os tradutores em comunicado enviado ao EDUCRIS.

Por certo que a escolha do nome «Apocalipse» se prende com o "contexto de uma Igreja em dificuldades, a vários níveis".

"Para além dos conflitos vividos no seio da própria comunidade (cf. 2,15), as relações com o império romano eram particularmente difíceis (como são exemplos as perseguições de Nero ou, posteriormente, de Domiciano); por outro lado, o primeiro cristianismo via-se forçado a conviver com a filosofia e a religião mistérica do mundo antigo, que tantas vezes «contaminava» as recém-formadas comunidades cristãs locais. Nesse sentido, o Apocalipse tem também como objetivo não só combater tais deturpações doutrinais como repreender as comunidades mornas, elogiar e incentivar as comunidades fiéis e que dão testemunho", desenvolvem.

Não obstante uma antiga tradição "identificar o evangelista João" como o seu autor, os tradutores do texto chamam a atenção para o modo como o texto está elaborado.

"Mais importante que a identificação do escritor do livro – que a tradição identifica com o evangelista João e que a maior parte dos estudiosos entende pertencer, de facto, à escola do autor do Quarto Evangelho – é a figura daquele que é, concomitantemente, o seu revelador e o conteúdo revelado: Jesus Cristo. É Ele quem fala, ou diretamente, ou pela mediação do seu servo João, uma figura influente nas sete Igrejas da Ásia (cf. 1,4)".

Os especialistas na Sagrada Escritura afirmam que "o ambiente da revelação é eminentemente litúrgico e dominical" e que "a grande experiência espiritual do Apocalipse é não só a celebração do mistério pascal de Jesus, mas também a entrada na dimensão litúrgica celeste, mediada pela liturgia dominical, escutando Jesus que fala e celebra a sua vitória sobre a morte e as forças do Mal".

"O princípio hermenêutico de fundo é apresentado no cap. 5: a história está nas mãos de Deus; é Ele que rege o sentido dos acontecimentos, para os conduzir segundo o seu plano salvífico. Este plano era inacessível; no entanto, Jesus, pelo que realizou pela sua morte e ressurreição, é considerado digno não só de receber o livro, mas de quebrar os seus selos (5,2; cf. 6,1ss), ou seja, de revelar o plano de Deus para a história, mostrando como, embora seja necessário travar uma intensa luta contra as forças do Mal, Deus terá sempre a última palavra, pois é Ele o Ómega (última letra do alfabeto), o fim de toda a história (21,6; 22,13)", completam.

A tradução provisória deste e de outros textos bíblicos está disponível para download no site da Conferência Episcopal Portuguesa.

As achegas e comentários devem ser enviados através do endereço eletrónico [email protected].

A CEP apresentou, em março de 2019, o primeiro volume da nova tradução da Bíblia em português, com «Os Quatro Evangelhos e os Salmos». Num trabalho iniciado em 2012, e que conta com a participação de 34 investigadores, a tradução realiza-se a partir das línguas originais, e pretende dotar a Igreja em Portugal de um texto, a “partir das línguas originais, para uso na liturgia, na catequese e nas demais atividades da Igreja”.

Educris|04.01.2024



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