Audiência-geral: «A Humildade é a porta de entrada das virtudes», afirma o Papa

Na última catequese sobre os «vícios e as virtudes» o Papa Francisco refletiu sobre a «Humildade» que apelidou da qualidade que "nos salva do Maligno" e nos permite "ter a medida certa" sobre nós próprios. O Papa socorreu-se do exemplo de Maria, a mãe de Jesus, para convidar os crentes à prática da "porta de entrada para todas as virtudes"

Leia, na íntegra e em português, a catequese do Santo Padre

O texto abaixo também inclui partes não lidas que também são apresentadas como pronunciadas

Catequese. Os vícios e virtudes. 20. A Humildade

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Concluímos este ciclo de catequeses centrando-nos numa virtude que não faz parte das sete virtudes cardeais e teologais, mas que é a base da vida cristã: esta virtude é a humildade. É a grande antagonista do mais mortal dos vícios, nomeadamente o orgulho (a soberba). Enquanto o orgulho e a arrogância incham o coração humano, fazendo-nos parecer mais do que somos, a humildade traz tudo de volta à dimensão certa: somos criaturas maravilhosas, mas limitadas, com pontos fortes e fracos. Desde o início, a Bíblia lembra-nos de que somos pó e ao pó voltaremos (cf. Gn 3,19). “Humilde” na verdade deriva do húmus, ou seja, da terra. No entanto, no coração humano surgem, muitas vezes, ilusões de omnipotência, que são muito perigosas, e nos fazem tanto mal.

Para nos libertarmos do orgulho, bastaria muito pouco, bastaria contemplar um céu estrelado para encontrar a medida certa, como diz o Salmo: «Quando vejo os céus, obra dos das tuas mãos, a lua e as estrelas que lá colocaste, o que é o homem para que vos lembreis dele, o filho do homem para que dele vos ocupardes?» (Sl 8,4-5). A ciência moderna permite-nos alargar muito, muito mais o horizonte e sentir ainda mais o mistério que nos rodeia e que vive dentro de nós.

Bem-aventuradas as pessoas que guardam no coração esta perceção da sua pequenez! Estas pessoas estão preservadas de um vício feio: a arrogância. Nas suas Bem-aventuranças, Jesus parte delas: «Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus» (Mt 5,3). É a primeira bem-aventurança porque é a base das seguintes: de facto, a mansidão, a misericórdia, a pureza de coração surgem daquele sentimento interno de pequenez. A humildade é a porta de entrada para todas as virtudes.

Nas primeiras páginas dos Evangelhos, a humildade e a pobreza de espírito parecem ser a fonte de tudo. O anúncio do anjo não acontece às portas de Jerusalém, mas numa aldeia remota da Galileia, tão insignificante que as pessoas diziam: «Pode vir algo de bom de Nazaré?» (Jo 1.46). Mas é precisamente a partir daí que o mundo renasce. A heroína escolhida não é uma rainha que cresceu em algodão, mas uma menina desconhecida: Maria. A primeira a ficar maravilhada é ela mesma, quando o anjo lhe traz o anúncio de Deus. E no seu canto de louvor sobressai este espanto: «A minha alma engrandece o Senhor e o meu espírito exulta em Deus, meu salvador, porque olhou para a humildade da sua serva» (Lc 1,46-48). Deus – por assim dizer – é atraído pela pequenez de Maria, que é antes de tudo uma pequenez interior. E também se sente atraído pela nossa pequenez, quando a aceitamos.

De agora em diante, Maria tomará cuidado para não subir ao palco. A sua primeira decisão após o anúncio angélico é ir ajudar, ir servir a sua prima. Maria dirige-se às montanhas de Judá para visitar Isabel: ela está com ela, acompanha-a nos últimos meses de gravidez. Mas quem vê este gesto? Ninguém, senão Deus. Deste esconderijo, a Virgem parece nunca querer sair. Como quando da multidão a voz de uma mulher proclama a sua bem-aventurança: «Bem-aventurado o ventre que te gerou e os seios que te amamentaram!» (Lucas 11:27). Mas Jesus responde imediatamente: «Bem-aventurados aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática» (Lc 11,28). Nem mesmo a verdade mais sagrada da sua vida – ser Mãe de Deus – se torna para ela motivo de orgulho diante dos homens. Num mundo que é uma corrida para aparecer, para nos mostrarmos superiores aos outros, Maria caminha decididamente, com a única força da graça de Deus, na direção oposta.

Podemos imaginar que também ela viveu momentos difíceis, dias em que a sua fé avançou nas trevas. Mas isso nunca fez vacilar a sua humildade, que em Maria era uma virtude granítica. Quero sublinhar isto: a humildade é uma virtude granítica. Pensemos em Maria: sempre pequena, sempre despojada de si, sempre livre de ambições. Esta sua pequenez é a sua força invencível: é ela quem permanece aos pés da cruz, enquanto se desfaz a ilusão de um Messias triunfante. Será Maria, nos dias anteriores ao Pentecostes, quem reunirá o rebanho dos discípulos, que não puderam vigiar Jesus durante apenas uma hora e o abandonaram quando chegou a tempestade.

Irmãos e irmãs, a humildade é tudo. É o que nos salva do Maligno e do perigo de nos tornarmos seus cúmplices. E a humildade é a fonte da paz no mundo e na Igreja. Onde não há humildade há guerra, há discórdia, há divisão. Deus deu-nos o exemplo disto em Jesus e Maria, para que seja a nossa salvação e a nossa felicidade. E a humildade é precisamente o caminho, o caminho para a salvação. Obrigado!

Imagem: Vatican Media

Tradução Educris a partir do original em italiano

22.05.2024



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