Audiência-geral: «A inveja e a vanglória combatem-se com o Amor», afirma o Papa

Depois de uma “leve gripe”, que o levou a cancelar algumas atividades no sábado e na segunda-feira, o Papa reapareceu em nova audiência-geral desta quarta-feira. A catequese foi lida pelo monsenhor Ciampanelli, colaborador da Secretaria de Estado, e aprofundou o tema da inveja e da vangloria

Leia, na íntegra, a catequese do Santo Padre

Catequese. Os vícios e virtudes. 9. Inveja e vanglória

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje examinamos dois pecados capitais que encontramos nas grandes listas que a tradição espiritual nos deixou: a inveja e a vanglória.

Comecemos com a inveja. Se lermos a Sagrada Escritura (cf. Gn 4), ela aparece-nos como um dos vícios mais antigos: o ódio de Caim por Abel é desencadeado quando ele percebe que os sacrifícios do seu irmão agradam a Deus. Caim foi o primogénito de Adão e Eva, ficou com a maior parte da herança do seu pai; no entanto, basta que Abel, o irmão mais novo, tenha sucesso num pequeno empreendimento, para que Caim fique sombrio. O rosto do invejoso está sempre triste: o seu olhar está por terra, parece estar continuamente a examinar o chão, mas na realidade não vê nada, porque a mente está envolvida por pensamentos cheios de malícia. A inveja, se não for controlada, leva ao ódio pelos outros. Abel será morto pelas mãos de Caim, que não suportou a felicidade do irmão.

A inveja é um mal indagado não apenas no contexto cristão: tem atraído a atenção de filósofos e estudiosos de todas as culturas. Na sua base existe uma relação de ódio e amor: queremos que o outro seja mau, mas secretamente queremos ser como ele. A outra é a epifania daquilo que gostaríamos de ser e que na realidade não somos. A sua sorte parece-nos uma injustiça: certamente – pensamos – teríamos merecido muito mais os seus sucessos ou a sua boa sorte!

Na raiz deste vício está uma falsa ideia de Deus: não se aceita que Deus tenha uma “matemática” própria, diferente da nossa. Por exemplo, na parábola de Jesus sobre os trabalhadores chamados pelo proprietário para irem à vinha em diferentes horas do dia, aqueles que chegam primeiro acreditam que têm direito a um salário mais elevado do que aqueles que chegaram por último; mas o patrão dá a todos o mesmo salário e diz: «Não posso fazer das minhas coisas o que quero? Ou estais com inveja porque sou bom?» (Mt 20,15). Gostaríamos de impor a Deus a nossa lógica egoísta, mas a lógica de Deus é o amor. Os bens que Ele nos dá são feitos para serem partilhados. É por isso que São Paulo exorta os cristãos: «Amai-vos com afeição fraterna, competi na estima mútua» (Rm 12,10). Aqui está o remédio para a inveja!

E chegamos ao segundo vício que hoje examinamos: a vanglória. Anda de mãos dadas com o demónio da inveja, e juntos esses dois vícios são típicos de quem aspira ser o centro do mundo, livre para explorar tudo e todos, objeto de todo o louvor e amor. A vanglória é uma auto-estima inflamada e infundada. A pessoa arrogante tem um “eu” incómodo: não tem empatia e não percebe que existem outras pessoas no mundo para além de si. As suas relações são sempre instrumentais, caracterizadas pela opressão dos outros. A sua pessoa, as suas façanhas, os seus sucessos devem ser mostrados a todos: ele é um perpétuo mendigo de atenção. E se às vezes as suas qualidades não são reconhecidas, ele fica extremamente irritado. Os outros são injustos, não entendem, não estão à altura. Nos seus escritos, Evágrio do Ponto descreve a amarga história de um monge atingido pela vanglória. Acontece que, depois dos primeiros sucessos na vida espiritual, ele sente que já atingiu o cume, e então corre ao mundo para receber o seu louvor. Mas ele não entende que está apenas no início da sua jornada espiritual e que está à espreita uma tentação que logo o fará cair.

Para curar os vaidosos, os mestres espirituais não sugerem muitos remédios. Porque, em última análise, o mal da vaidade tem em si o seu remédio: os elogios que o vanglorioso esperava colher no mundo logo se voltarão contra ele. Quantas pessoas, iludidas por uma falsa imagem de si mesmas, caíram em pecados dos quais logo se envergonharam!

A mais bela instrução para vencer a vanglória encontra-se no testemunho de São Paulo. O Apóstolo sempre teve de lidar com uma falha que nunca foi capaz de superar. Três vezes pediu ao Senhor que o libertasse daquele tormento, mas no final Jesus respondeu-lhe: «Basta-te a minha graça, pois é na fraqueza que a força se consuma». A partir daquele dia Paulo foi libertado. E a sua conclusão deveria tornar-se também a nossa: «portanto, de bom grado que prefiro gloriar-me nas minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo» (2 Cor 12, 9).

Tradução Educris a partir do original em italiano

Imagem: Vatican Media

Educris|28.02.2024



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