«A Teologia do futuro, não pode limitar-se a propor fórmulas e esquemas do passado», afirma o Papa

Carta apostólica, sob a forma de Motu Proprio, atualiza estatutos da Pontifícia Academia de Teologia e lança desafios para o futuro

«Ad theologiam promovendam» é o nome da Carta apostólica do Papa Francisco, na qual o sumo pontífice sustenta que “para promover a teologia, no futuro, não se pode limitar-se a propor de forma abstrata fórmulas e esquemas do passado”.

Na missiva, escrita sobre a forma de Motu Proprio, Francisco lembra que a teologia está chamada a “interpretar profeticamente o presente e a vislumbrar novos itinerários para o futuro, à luz da Revelação” devendo, deste modo, “enfrentar as profundas transformações culturais” na consciência de que “o que vivemos não é simplesmente uma época de mudanças, mas é a da época”.

Lembrando o saber teológico como “estando ao serviço da Igreja e do mundo”, o papa afirma “rever as normas de modo a torná-las mais adequadas à missão que o nosso tempo impõe à teologia”.

“Uma Igreja sinodal, missionária e ‘em saída’ só pode corresponder a uma teologia ‘em saída’”, sustenta a carta apostólica.

Para Francisco a Teologia de hoje deve estar “nas fronteiras” e não se contentar com “uma teologia de secretária”.

“A abertura ao mundo, ao homem na concretude da sua situação existencial, com os seus problemas, as suas feridas, os seus desafios, as suas potencialidades, não pode, no entanto, ser reduzida a uma atitude “tática”, adaptando extrinsecamente os conteúdos agora cristalizados às novas situações, mas deve exortar a teologia a repensar-se epistemologicamente e metodologicamente”, desenvolve citando uma carta escrita anteriormente ao magno chanceler da Universidade Católica da Argentina.

A Carta apostólica desafia os teólogos e teólogas de todo o mundo a “uma mudança de paradigma, a uma ‘revolução cultural corajosa’ que a comprometa, antes de mais nada, a ser uma teologia fundamentalmente contextual, capaz de ler e interpretar o Evangelho nas condições em que vivem diariamente os homens e as mulheres, nos diferentes ambientes geográficos, sociais e culturais e tendo como arquétipo a Encarnação do Logos eterno, a sua entrada na cultura, na visão do mundo, na tradição religião de um povo”.

“A teologia só pode desenvolver-se numa cultura de diálogo e de encontro entre diferentes tradições e diferentes conhecimentos, entre diferentes confissões cristãs e diferentes religiões, comprometendo-se abertamente com todos, crentes e não crentes”, desenvolve.

Francisco alerta para a necessidade de não existir um “fechar-se na autorreferencialidade”, o que levaria ao “isolamento e à insignificância”, mas a “perceber-se inserida numa teia de relacionamentos, antes de tudo com outras disciplinas e outros conhecimentos”.

“É a abordagem da transdisciplinaridade, ou seja, da interdisciplinaridade no sentido forte, distinta da multidisciplinaridade, entendida como interdisciplinaridade no sentido fraco. Leva à árdua tarefa da teologia de poder utilizar novas categorias desenvolvidas por outros saberes, para penetrar e comunicar as verdades da fé e transmitir o ensinamento de Jesus nas línguas de hoje, com originalidade e consciência crítica”, apela.

O Papa acredita que a teologia “pode contribuir para o debate atual de ‘repensar o pensamento’, mostrando-se um verdadeiro conhecimento crítico como conhecimento sapiencial, não abstrato e ideológico, mas espiritual, desenvolvido de joelhos, grávido de adoração e oração”.

“Um conhecimento transcendente e, ao mesmo tempo, atento à voz do povo, portanto teologia ‘popular’, misericordiosamente dirigida às feridas abertas da humanidade e da criação e nas dobras da história humana, para a qual profetiza a esperança de uma realização final”.

À Pontifícia Academia de Teologia, Francisco desafia a “desenvolver, em atenção constante à natureza científica da reflexão teológica, o diálogo transdisciplinar com outros saberes científicos, filosóficos, humanísticos e artísticos, com crentes e não crentes”.

“Isto pode acontecer criando uma comunidade académica de partilha da fé e do estudo, que tece uma rede de relações com outras instituições de formação, educativas e culturais e que saiba penetrar, com originalidade e espírito de imaginação, nos lugares existenciais de elaboração. de conhecimentos, profissões e comunidades cristãs”, completa.

Imagem: Ricardo Perna

Educris|02.11.2023



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