Papa recorda viagem à Mongólia: «Estive no coração da Ásia e fez-me bem»

No regresso às audiências-gerais, após mais uma viagem apostólica, desta feita à Mongólia, o Papa Francisco recordou a importância da "inculturação" no processo de evangelização e explicou o porquê de ter visitado "uma pequena comunidade cristã" que habita no centro da Ásia. Na sua reflexão o papa argentino sublinhou a importância de "encontrar os sinais de Deus no coração simples" e longe dos holofotes

Catequese. A viagem à Mongólia

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Voltei da Mongólia na segunda-feira. Gostaria de expressar a minha gratidão a todos aqueles que acompanharam a minha visita com orações e renovar a minha gratidão às Autoridades, que me acolheram solenemente: em particular ao Senhor Presidente Khürelsükh, e também ao ex-Presidente Enkhbayar, que me fez o convite oficial para visitar o país. Penso com alegria na Igreja local e no povo mongol: um povo nobre e sábio, que me mostrou tanta bondade e carinho. Hoje gostaria de levá-los ao coração desta viagem.

Poderíamos perguntar: por que é que o Papa vai tão longe para visitar um pequeno rebanho de fiéis? Porque é ali mesmo, longe dos holofotes, que muitas vezes encontramos os sinais da presença de Deus, que não olha para as aparências, mas para o coração como ouvimos na passagem do profeta Samuel (cfr 1 Sm 16.7).  O Senhor não procura o centro do palco, mas o coração simples de quem O deseja e o ama sem aparecer, sem querer destacar-se dos outros. E tive a graça de encontrar na Mongólia uma Igreja humilde, mas uma Igreja feliz, que está no coração de Deus, e posso testemunhar-vos a alegria deles por se encontrarem no centro da Igreja durante alguns dias.

Aquela comunidade tem uma história comovente. Surgiu, pela graça de Deus, e do zelo apostólico – sobre o qual refletimos neste tempo – de alguns missionários que, apaixonados pelo Evangelho, foram para aquele país que desconheciam há cerca de trinta anos. Aprenderam a língua – o que não é fácil – e, apesar de virem de nações diferentes, criaram uma comunidade unida e verdadeiramente católica. Este é de facto o significado da palavra “católico”, que significa “universal”. Mas não se trata de uma universalidade que homogeneíza, mas de uma universalidade que se incultura, é uma universalidade que se incultura. Isto é catolicidade: uma universalidade encarnada e “inculturada” que capta o bem onde vive e serve as pessoas com quem vive. Assim vive a Igreja: testemunhando o amor de Jesus com mansidão, com a vida antes das palavras, feliz com a sua verdadeira riqueza: o serviço ao Senhor e aos irmãos.

Assim nasceu aquela jovem Igreja: na esteira da caridade, que é o melhor testemunho da fé. No final da minha visita tive a alegria de abençoar e inaugurar a “Casa da Misericórdia”, a primeira obra de caridade estabelecida na Mongólia como expressão de todos os componentes da Igreja local. Uma casa que seja o cartão de visita daqueles cristãos, mas que chame cada uma das nossas comunidades a ser uma casa de misericórdia: isto é, um lugar aberto, um lugar acolhedor, onde as misérias de cada um possam entrar sem vergonha em contato com a misericórdia de Deus que ressuscita e cura. Aqui fica o testemunho da Igreja Mongol, com missionários de vários países que se sentem um com o povo, felizes em servi-lo e descobrir as belezas que já existem ali. Porque estes missionários não foram lá para fazer proselitismo, que não é evangélico, mas foram lá para viver como o povo mongol, para falar a língua deles, a língua deste povo, a apropriarem-se dos valores deste povo e pregar o Evangelho em Estilo mongol, com palavras mongóis. Eles foram e “inculturaram-se”: tomaram a cultura mongol para anunciar o Evangelho naquela cultura.

Pude descobrir um pouco desta beleza, também conhecendo algumas pessoas, ouvindo as suas histórias, apreciando as suas buscas religiosas. Neste sentido estou grato pelo encontro inter-religioso e ecuménico do passado domingo. A Mongólia tem uma grande tradição budista, com muitas pessoas que vivem silenciosamente a sua religiosidade de forma sincera e radical, através do altruísmo e da luta contra as suas paixões. Pensemos em quantas sementes de bem, no recolhimento, fazem brotar o jardim do mundo, enquanto normalmente só ouvimos falar do som das árvores a cair! E as pessoas, até mesmo nós, gostam de escândalo: “Mas olha a barbárie, caiu uma árvore, o barulho que fez!” – “Mas não se vê a floresta que cresce diariamente?”, porque o crescimento é silencioso. É crucial saber ver e reconhecer o bem. Muitas vezes, porém, apreciamos os outros apenas na medida em que correspondem às nossas ideias; em vez disso, devemos ver este bem. E por isso é importante, como faz o povo mongol, dirigir o olhar para cima, para a luz do bem. Só assim, a partir do reconhecimento do bem, se constrói o futuro comum; somente valorizando o outro podemos ajudá-lo a melhorar.

Eu estive no coração da Ásia e fez-me bem. É bom dialogar com este grande continente, captar as suas mensagens, conhecer a sua sabedoria, a sua maneira de ver as coisas, de abraçar o tempo e o espaço. Foi bom para mim conhecer o povo mongol, que preserva as suas raízes e tradições, respeita os idosos e vive em harmonia com o meio ambiente: é um povo que perscruta o céu e sente o sopro da criação. Pensando nas extensões ilimitadas e silenciosas da Mongólia, deixemo-nos estimular pela necessidade de alargar os limites do nosso olhar, por favor: alargar os limites, olhar largo e alto, olhar e não permanecer prisioneiro das pequenas coisas, alargar os limites do nosso olhar, para que possamos ver o bem que há nos outros e é capaz de ampliar os horizontes e também de expandir o coração para compreender, para estar perto de cada pessoa e de cada civilização.

Tradução Educris a partir do original em Italiano

Imagem: Vatican Media

Educris|06.09.2023



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