Educação: Discurso do Papa à União Mundial dos Professores Católicos

Na passada sexta-feira o Papa Francisco recebeu, no Vaticano, os responsáveis da União Mundial dos Professores Católicos

 

Leia, na íntegra, e em português, o discurso do Papa 

Queridos irmãos e irmãs, bom dia e bem-vindos!

 

Agradeço ao Presidente pelas suas palavras de saudação e a todos vós, membros da União Mundial dos Professores Católicos (UMEC). Saúdo e agradeço ao Cardeal Farrell, ao Arcebispo Dollmann, Assistente Eclesiástico, aos demais Bispos presentes e ao Secretário do Departamento para a Cultura e a Educação.

Vós estais reunidos, nestes dias em Roma, para a vossa Assembleia Geral, que também deverá eleger o novo Conselho Internacional. Expresso a minha gratidão aos membros da Comissão Presidencial cessante pelo seu serviço fiel e generoso durante muitos anos, na certeza de que o seu trabalho - desinteressadamente e com grande paixão - dará frutos no futuro: trabalho para dar frutos.

Vivestes momentos difíceis na vossa história recente, até mesmo com momentos de dúvida e desânimo. Às vezes parecia que não havia mais condições para continuar, que tínhamos de acabar. Mas, graças a Deus, mesmo nestes tempos de tempestade, perseverastes! Vós confiastes em Deus e no apoio da Igreja, e continuastes a envolver-vos num espírito de fé e esperança cristã. Estai certos: as sementes plantadas na esperança criam raízes e crescem sempre!

Também a UMEC, como muitas outras associações católicas, enfrenta o desafio da mudança geracional, que diz respeito em particular aos dirigentes. Convido-vos a considerar esta necessidade com uma perspetiva positiva. A realidade nunca é estática, é dinâmica. E isto, claro, também se aplica às instituições eclesiais: elas evoluem e desenvolvem-se com a mudança dos tempos, e cada mudança de época coloca-as diante de uma nova missão. Portanto, a renovação dentro de vós e nos papéis de maior responsabilidade deve ser vista como o início de uma nova missão, como uma oportunidade para relançar vigorosamente as vossas atividades de serviço e apoio às novas gerações de professores católicos, tanto aqueles que trabalham escolas católicas, como os que trabalham em instituições interconfessionais ou seculares.

A vossa União pretende encorajar e motivar todos estes professores a terem plena consciência da sua importante missão de educadores e testemunhas da fé, individualmente ou em grupo. Para isso, propõe-se ser uma rede de colegas de profissão e irmãos de fé que, em espírito e estilo de amizade, acolhimento, conhecimento mútuo e crescimento espiritual comum, se poem ao serviço de todos os professores católicos para ajudar na preservação da sua identidade e levar avante a sua missão. Diria que nesta tarefa sois “colaboradores do Papa”: de facto, a missão do Sucessor de Pedro é precisamente a de confirmar e sustentar os irmãos na fé (cf. Lc 22,32). E assim vós, no mundo escolar, tornais presente o serviço da Igreja para apoiar os professores católicos na fé, para que possam desempenhar da melhor forma o seu trabalho e o seu testemunho, em situações muitas vezes complexas no nível relacional e institucional.

A presença de educadores cristãos no mundo escolar é de vital importância. O estilo que ele ou ela assume é decisivo. De facto, o educador cristão é chamado a ser plenamente humano e plenamente cristão ao mesmo tempo. Não há humanismo sem cristianismo. E não há cristianismo sem humanismo. Não deve ser espiritualista, em órbita, "fora deste mundo". Deve estar enraizado no presente, no seu tempo, na sua cultura. É importante que a sua personalidade seja rica, aberta, capaz de estabelecer relações sinceras com os alunos, de compreender as suas necessidades mais profundas, as suas dúvidas, os seus medos, os seus sonhos. E que seja ainda capaz de testemunhar - antes de mais com a sua vida e também com as suas palavras - que a fé cristã abrange todo o ser humano, tudo, que traz luz e verdade a todas as áreas da existência, sem excluir nada, sem cortar as asas, aos sonhos dos jovens, sem empobrecer as suas aspirações. De facto, na tradição da Igreja, a educação dos jovens sempre teve como objetivo a formação integral da pessoa humana, não apenas a instrução de conceitos, a formação em todas as dimensões humanas (cf. Concílio Vaticano II, Constituição Gaudium et spes, 48).

A propósito desta missão educativa, vós da UMEC sois chamados a apoiar os professores de todas as idades, de todas as condições de trabalho: tanto os de longa experiência - rica de satisfações, mas também de dificuldades – seja com as novas gerações, professores animados pelo entusiasmo e vontade de fazer, mas também aqueles com as fragilidades e incertezas que muitas vezes marcam os primeiros anos de docência. Todos estes professores - se os olharmos numa perspetiva cristã, da qual por vezes eles próprios não têm plena consciência - estão em condições de deixar uma marca, para melhor ou para pior, na vida das crianças, adolescentes e jovens, que lhes são confiados por muito tempo. Que responsabilidade! E que oportunidade de introduzi-los, com sabedoria e respeito, nos caminhos do mundo e da vida, acompanhando as suas mentes a abrirem-se ao verdadeiro, ao belo, ao bem. Sabemos, por experiência própria, como é importante ter bons professores e educadores sábios nos anos de formação!

Caros amigos, no vosso apostolado levai devidamente em conta que a arte de educar deve ser continuamente cultivada e aumentada. Não é algo que foi adquirido de uma vez por todas. E se isso vale para várias profissões, que exigem atualização, a de professor tem uma peculiaridade única: porque vós não trabalhais com objetos, mas com sujeitos! A educação tem a ver com o ser humano, sobretudo na idade do desenvolvimento. São pessoas que mudam de ano para ano, aliás, às vezes de mês para mês. E então os jovens de uma geração são diferentes dos da próxima geração. Os educadores, portanto, devem renovar-se continuamente nas motivações e formas de trabalhar. Não podem ser rígidos. A rigidez destrói a educação. Na sua abordagem aos diferentes grupos de alunos e alunos, são chamados a recomeçar todos os anos, a redescobrir a capacidade de empatia e de comunicação. Neste sentido a vossa tarefa é a de os ajudar a manter vivo o desejo de crescer conjuntamente com os seus alunos, a encontrar as formas mais eficazes de transmitir a alegria do conhecimento e o desejo de verdade, adotando linguagens e formas culturais adequadas para os jovens de hoje.

E sobre isto gostaria de sublinhar uma coisa. Eu disse: “Linguagens adaptadas às formas culturais de hoje”. Sim, mas estai atentos à colonização ideológica. Uma coisa é ficar com a cultura do momento, falar a linguagem do momento, e outra é deixar-se colonizar ideologicamente. Por favor: tende o cuidado de ensinar os professores a discernir o que é uma novidade que nos faz crescer e o que é uma ideologização, uma colonização ideológica. Hoje, as colonizações ideológicas destroem a personalidade humana e quando ingressam na educação causam massacres.

Eu gostaria de fazer-vos um último convite que está muito próximo do meu coração. A vossa União pode ajudar a consciencializar os professores católicos acerca do Pacto Global pela Educação. Como sabeis, esta iniciativa, que contou com o apoio de muitas instituições educativas, visa “unir esforços numa ampla aliança educativa para formar pessoas maduras, capazes de superar a fragmentação e as contradições e reconstruir o tecido das relações para uma humanidade mais fraterna” (Mensagem de lançamento do Pacto Educativo, 12 de setembro de 2019). Confio no vosso empenho em envolver os docentes membros da UMEC neste projeto, que visa centrar a atenção na pessoa, na sua dignidade, na sua beleza, e nas famílias como sujeitos educativos primários.

Queridos irmãos e irmãs, encorajo-vos a olhar com esperança e a dar um novo impulso à União dos Professores Católicos. Há um grande trabalho e uma importante missão à vossa espera no mundo da escola. Que Nossa Senhora, os Santos e os educadores vos acompanhem e vos inspirem. Eu também estou convosco neste desafio - não como santo ou santa, mas como companheiro de luta. Abençoo-vos cordialmente e peço-vos que rezeis por mim. Obrigado!

Imagem: Vatican MEDIA

Tradução Educris a partir do original em italiano|15.11.2022



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