«A experiência paroquial é insubstituível», afirma o Papa

O Papa encontrou-se, esta manhã no Vaticano, com jovens da Ação Catolica de Itália, empenhados na ação paroquial. Francisco lembrou a sua experiência paroquial e alertou para o perigo do "individualismo" e da "indiferença" que considerou "mais perigosa que o cancro na vossa idade"

Leia, na íntegra, o discurso do Santo Padre

 

Discurso do Papa aos Jovens da Ação Católica Italiana

 

Queridos jovens da Ação Católica, bom dia e bem-vindos!... Pelo menos vós sabeis fazer barulho, isso já é qualquer coisa, em frente!

Agradeço ao Presidente Nacional pelas suas palavras.

Digo-vos desde já que aprecio muito o facto de a paróquia vos ser querida. É importante para mim também! A paróquia. Há movimentos, há coisas que giram... A paróquia: a raiz está na paróquia. Mas sou de outra geração. Nasci e cresci num contexto social e eclesial diferente, quando a paróquia - com o seu pároco - era um ponto de referência central para a vida do povo: a missa dominical, a catequese, os sacramentos... A realidade sociocultural em que vós viveis mudou muito, nós sabemos disso; e há algum tempo – primeiro noutros países, depois também na Itália - a missão da Igreja foi repensada, em particular a paroquial. Mas, em tudo isto, uma coisa permanece essencial: para nós, para mim e para ti, para o nosso caminho de fé e crescimento, a experiência paroquial foi e é importante, insubstituível. É o ambiente “normal” onde aprendemos a ouvir o Evangelho, a conhecer o Senhor Jesus, a oferecer um serviço gratuito, a rezar em comunidade, a partilhar projetos e iniciativas, a sentir-nos parte do povo santo de Deus.

Tudo isto o haveis vivido também através da Ação Católica, que é uma experiência associativa, por assim dizer, "entrelaçada" à da comunidade paroquial. Alguns de vós, imagino, fizeram parte de um grupo da ACI, a Ação Católica Infantil; e ali apreendestes muito sobre o que significa fazer parte de uma comunidade cristã: participar, compartilhar, colaborar e rezar juntos...

Isto é muito importante: aprender pela experiência que na Igreja somos todos irmãos pelo Batismo; que todos somos protagonistas e responsáveis; que temos dons diversos e todos para o bem da comunidade; que a vida é uma vocação, é seguir Jesus; que a fé é um dom a ser dado, um dom a ser testemunhado. E depois, novamente: que o cristão se interessa pela realidade social e dá a sua própria contribuição; que o nosso lema não é “eu não me importo”, mas “eu interesso-me!”. Estai atentos, tende cuidado vós, que a doença da indiferença nos jovens é mais perigosa que o cancro. Por favor, sede cuidadosos! Aprendemos que a miséria humana não é um destino que atinge alguns infelizes, mas quase sempre surge como fruto de injustiças a serem erradicadas. E assim por diante, aprendemos todas estas coisas. Estas realidades da vida são muitas vezes aprendidas na paróquia e na Ação Católica. Quantos jovens foram formados nesta escola! Quantos deram o seu testemunho tanto na Igreja como na sociedade, nas várias vocações e sobretudo como fiéis leigos, que continuaram adultos e idosos o estilo de vida amadurecido na juventude, na paróquia.

Então, queridos jovens, somos de gerações diferentes, mas temos em comum o amor pela Igreja e a paixão pela paróquia, que é a Igreja no meio das casas, no meio do povo. E com base nessa paixão, gostaria de compartilhar alguns pontos convosco, tentando estar em sintonia com a vossa jornada e vosso compromisso.

Em primeiro lugar, queres contribuir para que a Igreja cresça na fraternidade. Obrigado! Estamos perfeitamente sintonizados com isto. Sim, mas como fazê-lo? Em primeiro lugar, não vos assusteis - como haveis, aliás, notado - nas comunidades vede como é, por vezes, fraca a dimensão comunitária. É uma coisa muito importante, mas não vos assusteis, pois trata-se de um dado social, que se agravou com a pandemia. Hoje, especialmente os jovens, são extremamente diferentes em relação há 50 anos: não há mais o desejo de realizar encontros, debates, assembleias... Por um lado, é uma coisa boa, mesmo para vós: a Ação Católica não deve ser uma “sessão” católica!, e a Igreja não progride com reuniões! Mas, por outro lado, o individualismo, o fechar-se sozinho ou em pequenos grupos, a tendência a relacionar-se “à distância” também contagiam as comunidades cristãs. Se olharmos para nós, todos somos um pouco influenciados por esta cultura egoísta. Então temos de reagir, e vós também o podereis fazer começando um trabalho convosco mesmos. 

E digo “trabalho” porque é uma jornada exigente e que requer constância. A fraternidade não se improvisa e não se constrói apenas com emoções, slogans, eventos... Não, a fraternidade é um trabalho que cada um faz em si mesmo juntamente com o Senhor, com o Espírito Santo, que cria harmonia entre as diversidades. Recomendo que releiam a parte da Exortação Christus vivit intitulada "Caminhos de fraternidade". São poucos os números: de 163 a 167. Christus vivit, Caminhos da fraternidade. Lede, por favor. O ponto de partida é sair de si mesmo para abrir-se aos outros e sair ao seu encontro (cf. n. 163). O Espírito de Jesus Ressuscitado faz isto: faz-nos sair de nós mesmos, abre-nos ao encontro. Atenção! Não é alienação, não, é uma relação, na qual nos reconhecemos e crescemos juntos. A realidade fundamental para nós é que na Igreja vivemos este movimento em Cristo, através da Eucaristia: Ele sai de si mesmo e entra em nós para que saiamos de nós mesmos e nos unamos a ele, e nele encontrar-nos-emos numa nova comunhão, livre, gratuita, oblativa. A fraternidade na Igreja funda-se em Cristo, na sua presença em nós e entre nós. Graças a ele acolhemo-nos, suportamo-nos uns aos outros - o amor cristão constrói-se sobre nós mesmos - e perdoamo-nos. Paro aqui. Entendeis-me bem, são realidades que viveis, são a vossa, a nossa alegria!

E aqui paro num ponto que para mim é como a doença mais grave de uma comunidade paroquial: a coscuvilhice. A coscuvilhice que é sempre feita como ferramenta de escalada, promoção, autopromoção: sujar o outro para que eu possa ir mais longe. Por favor, a coscuvilhice não é cristã, é diabólica porque divide. Cuidado, jovens, por favor. Vamos deixar isso para quem nada faz... Nunca faleis sobre o outro. E se tendes uma coisa contra outra pessoa, ide e dizei na cara; seja homem, ou seja, mulher: na cara, sempre. Então, por vezes, levareis um soco, mas dizei a verdade, dizei-a na cara com caridade fraterna. Por favor, críticas ocultas são coisas do diabo. Se quereis criticar, todos juntos, criticai-vos a vós mesmos, mas não fora, dentro de vós.

E com estas coisas que disse compreendemos em que sentido os cristãos se tornam "fermento" na sociedade: se um cristão está em Cristo, se é irmão no Senhor, se é animado pelo Espírito, só pode ser fermento onde vive: fermento da humanidade, porque Jesus Cristo é o Homem perfeito e o seu Evangelho é uma força humanizadora. Gosto muito de uma expressão que usais: "ser misturado neste mundo". É o princípio da encarnação, o caminho de Jesus: trazer a nova vida de dentro, não de fora, não, de dentro. Mas com uma condição, no entanto, isto parece óbvio, mas não é: que o fermento seja fermento, que o sal seja sal, que a luz seja luz. Mas se o fermento é outra coisa, não funciona; se o sal for outra coisa, não funciona; se a luz estiver escura, não funciona. Caso contrário, se, estando no mundo, nos tornamos mundanos, perdemos a novidade de Cristo e não temos mais nada a dizer ou a dar. E aqui está a sua outra expressão que me impressionou: "ser jovens crentes credíveis". É o que diz Jesus quando, por um lado, diz: "Vós sois o sal da terra", e logo avisa: cuidado para não perder o sabor! (cf. Mt 5:13). "Este, em menino, em menina, era bom, era boa,  da Ação Católica, ia por diante, a todo o lugar... Agora, por sua vez, tornou-se numa pessoa espiritualmente entediada, que não tem forças para levar adiante o Evangelho”. Cuidado: que o sal permaneça sal, que o fermento permaneça fermento, que a luz permaneça luz!

Jovens crentes, responsáveis ??e credíveis: é isso que vos desejo. Isto também se pode tornar uma fórmula, uma "maneira de dizer". Mas não é assim, porque estas palavras estão encarnadas nos santos, nos jovens santos! A Mãe Igreja oferece-nos muitos, pensemos - limitando-nos apenas a alguns italianos - de Francisco e Clara de Assis, Rosa da Viterbo, Gabriele dell'Addolorata, Domenico Savio, Gemma Galgani, Maria Goretti, Pier Giorgio Frassati, Chiara Badano, Carlo Acutis. Eles ensinam-nos o que significa ser fermento, estar no mundo, não ser do mundo. Pier Giorgio Frassati foi um membro ativo e entusiasmado da Ação Católica Italiana, em particular da FUCI, e demonstra como se pode ser crente jovens responsáveis ??credíveis, crentes felizes e sorridentes. Aí dos jovens com cara de enterro: perderam tudo.

Queridos amigos, haveria muitas coisas que poderíamos compartilhar sobre a vida na paróquia e o testemunho na sociedade. Mas não temos tempo - nem temos paciência para continuar a falar! -. Gostaria de acrescentar apenas uma sugestão, que também vem do facto de outubro ser o mês do Rosário: aprendei com a Virgem Maria a guardar e a meditar em vosso coração a vida de Jesus, os mistérios de Jesus. Meditai todos os dias nos mistérios gozosos, nos luminosos, dolorosos e gloriosos da sua vida, e isso há-de permitir-vos viver o ordinário de forma extraordinária, isto é, com a novidade do Espírito, com a novidade do Evangelho.

Obrigado por terdes vindo e obrigado pelo vosso testemunho! Segui em frente com alegria e coragem. Abençoo-vos de coração e a todos os jovens da Ação Católica. Bom caminho nas vossas paróquias e impregnai-vos como fermento no mundo! Por favor, não vos esqueçais de orar por mim. Obrigado!

Imagem: Vatican Media

Educris|29.10.2022



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