Vaticano: «Ter nariz, trazer à luz os medos, dar a vida aos outros», os conselhos do Papa aos adolescentes

Francisco encontrou hoje, na praça de São Pedro, no Vaticano, mais de 50 mil adolescentes e jovens, na I Peregrinação de adolescentes a Roma, organizada pela Conferência Episcopal Italiana sob o lema «Segue-me!»

Leia, na íntegra, a reflexão do Santo Padre

Queridos rapazes e raparigas, bem-vindos!

Obrigado por estardes aqui! Esta praça há muito espera ser preenchida com a vossa presença, os vossos rostos e vosso entusiasmo. Há dois anos, a 27 de março, vim aqui sozinho apresentar ao Senhor o apelo do mundo afetado pela pandemia. Talvez naquela noite vós estivésseis em talvez em vossas casas, diante da televisão, orando em conjunto com as vossas famílias. Dois Passaram dois anos de praça vazia e à praça aconteceu como acontece connosco quando jejuamos: queremos comer e, quando vamos comer depois do jejum, comemos mais; por isto se fica cheio: até a praça sofreu com o jejum e agora está cheia de vós! Hoje, todos vós estais juntos, vindos da Itália, no abraço desta praça e na alegria da Páscoa que acabamos de celebrar.

Jesus venceu as trevas da morte. Infelizmente, as nuvens que escurecem o nosso tempo ainda são densas. Além da pandemia, a Europa vive uma guerra terrível, enquanto as injustiças e a violência continuam em muitas regiões da Terra destruindo a humanidade e o planeta. Muitas vezes, são os vossos colegas que pagam o preço mais alto: não apenas a sua existência é comprometida e tornada insegura, mas os seus sonhos para o futuro são espezinhados. Muitos irmãos e irmãs ainda esperam a luz da Páscoa.

A passagem do Evangelho que escutámos inicia-se na escuridão da noite. Pedro e os outros entram nos barcos e vão pescar - e não apanham nada. Que deceção! Quando colocamos tanta energia em realizar os nossos sonhos, quando investimos tantas coisas, como os apóstolos, e nada acontece... Mas algo surpreendente acontece: ao raiar do dia, um homem aparece na praia, esse homem era Jesus. Esperava por eles. E Jesus diz-lhes: "Ali, à direita estão os peixes". E ocorre o milagre de tantos peixes: as redes enchem-se de peixes.

Isto pode ajudar-nos a pensar em alguns dos momentos da nossa vida. Às vezes a vida põe-nos à prova, faz-nos tocar as nossas fragilidades, faz-nos sentir nus, desamparados, sós. Quantas vezes durante este período vos sentistes sós, longos dos vossos amigos? Quantas vezes tivestes medo? Não tenhais vergonha de dizer: "Tenho medo do escuro!" Todos temos medo do escuro. Os medos devem ser ditos, os medos devem ser expressos para poder afastá-los. Lembrai-vos disto: os medos devem ser verbalizados. A quem? Ao pai, à mãe, ao amigo, ao amigo, à pessoa que pode possa ajudar. Eles devem ser trazidos à luz. E quando os medos, que estão nas trevas, vem à luz, a verdade irrompe. Não desanimeis: se tens um medo, trá-lo à luz e isso vai fazer-te bem!

A escuridão coloca-nos em crise; mas o problema é como eu administro esta crise: se eu guardo isto só para mim, para o meu coração, e não falo sobre isto com ninguém, não funciona. Nas crises temos que falar, falar com o amigo que pode me ajudar, com o pai, com a mãe, com o avô, com a avó, com a pessoa que me pode ajudar. As crises devem ser iluminadas para serem superadas.

Caros rapazes e raparigas, vós não tendes a experiência dos adultos, mas tendes algo que nós, adultos, às vezes perdemos. Por exemplo: com o passar dos anos, nós adultos precisamos de óculos porque perdemos a visão ou às vezes ficamos um pouco surdos, perdemos a audição... Ou, muitas vezes, o habitual da vida faz-nos perder "o nariz"; vós tendes "o nariz". E não o percais, por favor! Vós tendes um faro para a realidade, e isto é uma grande coisa. O nariz que João tinha: tanto assim que ao ver aquele senhor dizer: "atirai as redes para a direita", o nariz disse-lhe: "É o Senhor!". Ele era o mais jovem dos apóstolos. Vós tendes nariz: não o percais! O nariz para dizer "isto é verdade - isto não é verdade - isto não é bom"; o nariz para encontrar o Senhor, o nariz para a verdade. Desejo que tenhais o nariz de João, mas também a coragem de Pedro. Pedro era pouco "especial": negou Jesus três vezes, mas assim que João, o mais novo, diz: "É o Senhor!", atira-se à água para ir ao encontro de Jesus.

Não vos envergonheis das vossas explosões de generosidade: o nariz levar-vos-á à generosidade. Atirem-se à vida. “Ei, padre, mas eu não sei nadar, tenho medo da vida!”: tu tens alguém que te acompanha, procurar alguém que te acompanhe. Mas não tenhas medo da vida, por favor! Tende medo da morte, da morte da alma, da morte do futuro, do fechar do coração: tende medo disso. Mas da vida, não: a vida é bela, a vida é vivê-la e dá-la aos outros, a vida é compartilhá-la com os outros, não a fechar em si mesma.

Eu não gostaria de entrar muito nisto, só gostaria de dizer que é importante que vós avanceis. Os medos? Iluminar, nomear. O Desânimo? Vencê-lo com a coragem, com alguém para te dar uma mão. E o nariz para a vida: não o percais, porque é uma coisa linda.

E, nos momentos de dificuldade, os filhos chamam pela mãe. Nós também chamamos a nossa mãe, Maria. Ela – estai atentos - tinha quase a vossa idade quando aceitou a sua extraordinária vocação de ser a mãe de Jesus... linda: a vossa idade, mais ou menos... Que vos ajude ela a responder com confiança ao vosso "Eis-me aqui!" ao Senhor: “Estou aqui, Senhor: o que devo fazer? Estou aqui para fazer o bem, para crescer bem, para ajudar os outros com o nariz”. Que Nossa Senhora, a mãe que tinha quase a vossa idade quando recebeu o anúncio do anjo e engravidou, vos ensine a dizer: "Eis-me aqui!". E não ter medo. Coragem e em frente!

Tradução Educris a partir do original em italiano

Imagem: Vatican News

Educris|18.04.2022



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