«O Mundo tem sede de Paz», afirma o Papa em mensagem

O Papa Francisco enviou hoje uma mensagem aos participants do 9º Fórum Mundial da Água que decorre no Senegal. Numa missíva assinada pelo seu secretário de estado, cardeal Pietro Parolin, afirma o acesso à água e ao saneamnto como "direito humano" e lembra que a água deve "ser príncipio de paz e cooperação" apelando à paz na sua gestão

 

Leia, na íntegra e m português, a mensagem do Papa Francisco

 

MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO,

ASSINADA PELO SECRETÁRIO DE ESTADO PIETRO PAROLIN,

POR OCASIÃO DO 9º FÓRUM MUNDIAL DA ÁGUA

 

 

Em nome do Papa Francisco, desejo expressar as minhas mais cordiais saudações a todos os participantes reunidos no 9º Fórum Mundial da Água, que se realiza sob o tema «Segurança hídrica para a paz e o desenvolvimento». Vale a pena destacar a importância desta questão, tantos são os desafios atuais e futuros que a ela se colocam para a nossa humanidade.

O nosso mundo tem sede de paz, deste bem indivisível que exige o esforço e a contribuição constante de todos e que se baseia, em particular, na satisfação das necessidades essenciais e vitais de cada pessoa humana.

A segurança da água está hoje ameaçada por vários fatores, dos quais destaco a poluição, os conflitos, as mudanças climáticas e o uso indevido de recursos naturais. No entanto, a água é um bem valioso para a paz. Como resultado, não pode ser considerado simplesmente como um bem privado, gerador de lucro comercial e sujeito às leis do mercado.

Além disso, o direito à água potável e ao saneamento está intimamente ligado ao direito à vida, que está enraizado na dignidade inalienável da pessoa humana e constitui condição para o exercício dos outros direitos humanos. O acesso à água e ao saneamento é, de facto, um «direito humano primário, fundamental e universal, porque determina a sobrevivência das pessoas». Consequentemente, o mundo tem «uma grave dívida social para com os pobres que não têm acesso à água potável» [1], mas também para com todos aqueles para quem as fontes tradicionais de água potável foram poluídas ao ponto de se tornarem perigosas, destruídas por armas e inutilizadas, ou secas como resultado de uma má gestão florestal.

Hoje, mais de 2 bilhões de pessoas são privadas do acesso à água potável e/ou saneamento. Pensemos em todas as consequências concretas que isto pode ter, em particular para os pacientes nos centros de saúde, para as mulheres em trabalho de parto, para os presos, refugiados, deslocados.

Dirijo um apelo a todos os responsáveis ??e dirigentes políticos e económicos, às várias administrações, àqueles que estão em condições de realizar a investigação, o financiamento, a educação e a exploração dos recursos naturais e hídricos em particular, para que se comprometam a servir o bem comum com dignidade, determinação, integridade e espírito de cooperação. [2]

Deve sublinhar, ainda, que «abordar questões relacionadas à escassez de água e melhorar a gestão da água, especialmente pelas comunidades, pode ajudar a criar uma maior coesão social e solidariedade» [3], a iniciar processos [4], e a forjar vínculos. De facto, a água é um dom de Deus e um património comum cujo destino universal deve ser assegurado a cada geração.

Além disso, é uma contestação segundo a qual «a água doce, tanto na superfície quanto no subsolo, é em grande parte transfronteiriça. [Portanto], se os países concordassem em colaborar mais com a água em vários lugares do mundo, seria um grande passo para a paz. (…) Gerando mecanismos de cooperação em matéria de águas transfronteiriças que funcionem bem e que funcionam como um elemento importante da paz e da prevenção de conflitos armados». [5] Neste sentido, como não pensar no rio Senegal, mas também no Níger, no Nilo e nos outros grandes rios que atravessam vários países? Em todas estas situações, a água deve tornar-se símbolo de acolhimento e bênção, motivo de encontro e colaboração que aumente a confiança mútua e a fraternidade.

Recordemos «que na origem do que chamamos natureza no seu sentido cósmico, há um plano de amor e verdade [, e que] o mundo não é fruto de nenhuma necessidade, destino cego ou acaso» [6]. Gerir a água de forma sustentável e com instituições eficientes e solidárias não é, portanto, apenas uma contribuição para a paz; é também uma forma de reconhecer este dom da criação que nos foi confiado para que juntos possamos cuidar dele.

O Papa Francisco assegura-vos as suas orações para que este Fórum Mundial da Água seja uma oportunidade para trabalharmos juntos pela realização do direito à água potável e ao saneamento, para cada pessoa humana, e que contribua para que a água seja um verdadeiro símbolo de partilha, de diálogo responsável em prol de uma paz duradoura, porque se baseia na confiança [7].

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[1] Papa Francisco Laudato si’, n. 30.

[2] Papa Francisco, Discours aux participants à la 3ème rencontre mondiale des mouvements populaires, 5 novembre 2016 ; Dicastère pour le Service du Développement Humain Intégral, Aqua fons vitae, n. 107.

[3] Aqua fons vitae, n. 26.

[4] Papa Francisco, Exortação apostólica Evangelii gaudium, n. 223.

[5] Aqua fons vitae, n. 27.

[6] Bento XVI, Message pour la Journée mondiale de la Paix 2010, n. 6.

[7] São João XXIII, Enciclica Pacem in terris, n. 113.

 

Tradução Educris a partir do original em francês

Imagem: Unsplash

Educris|22.03.2022



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