Ângelus: «Precisamos da luz de Deus, para ver as coisas de maneira diferente», papa Francisco

No II Domingo da Quaresma o Papa Francisco comentou o evangelho da transfiguração lembrando como em momentos chave da vida de Jesus "os discipulos adormecem". Aos fiéis, presentes na praça de São Pedro, no Vaticano, o Papa convidou a "um momento de oração" ao final do dia para se deixarem "maravilhar pelo amor louco de Deus"

Leia, na íntegra, a reflexão do Papa Francisco

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

O Evangelho da Liturgia deste segundo domingo da Quaresma narra a Transfiguração de Jesus (cf. Lc 9, 28-36). Enquanto reza num alto de um monte, muda o seu aspeto, a sua roupa torna-se branca e resplandecente, e à luz da sua glória aparecem Moisés e Elias, falando com ele sobre a Páscoa que o espera em Jerusalém, isto é, sobre a paixão, morte e ressurreição Dele.

Testemunhas deste acontecimento extraordinário são os apóstolos Pedro, João e Tiago, que subiram ao monte com Jesus. Imaginamo-los de olhos arregalados diante daquele espetáculo único. E certamente terá sido assim. Mas o evangelista Lucas observa que «Pedro e os companheiros estavam cheios de sono» e que «ao despertarem» viram a glória de Jesus (cf. v. 32). O sono dos três discípulos aparece como uma nota dissonante. São os mesmíssimos apóstolos, pois, que hão-de adormecer também no Getsémani, durante a oração angustiada de Jesus, que lhes pediu que vigiassem (cf. Mc 14, 37-41). Esta sonolência surpreende-nos em momentos tão importantes.

Lendo com atenção, vemos que Pedro, João e Tiago parecem adormecer antes de começar a Transfiguração, ou seja, enquanto Jesus está em oração. O mesmo acontecerá no Getsémani. Trata-se evidentemente de uma oração que durou muito tempo, em silêncio e recolhimento. Podemos pensar que no início eles também rezavam, até que o cansaço e o sono prevaleceram.

Irmãos, irmãs, este sono fora de tempo não se assemelha a tantos dos nossos sonhos que nos aparecem em momentos que sabemos serem importantes? Talvez à noite, quando quisermos rezar, passar algum tempo com Jesus depois de um dia passado em mil corridas e compromissos. Ou quando é hora de trocar algumas palavras com a família e não se tem mais forças. Gostaríamos de estar mais despertos, atentos, envolvidos, para não perder oportunidades preciosas, mas não conseguimos, ou conseguimo-lo de maneira breve e de qualquer maneira.

O forte tempo da Quaresma é uma oportunidade neste sentido. É um período em que Deus quer despertar-nos da letargia interior, desta sonolência que não permite que o Espírito se expresse. Porque - lembremo-nos bem - manter o coração desperto não depende só de nós: é uma graça, e deve ser pedida. Os três discípulos do Evangelho demonstram isto: eles eram bons, haviam seguido Jesus até à montanha, mas com a sua força não conseguiram ficar acordados. Isso também acontece connosco. Mas eles acordam apenas durante a Transfiguração. Podemos pensar que foi a luz de Jesus que os despertou. Como eles, nós também precisamos da luz de Deus, que nos faz ver as coisas de maneira diferente; atrai-nos, desperta-nos, reacende o desejo e a força de rezar, de olhar para dentro e de dedicar tempo aos outros. Podemos vencer a fadiga do corpo com a força do Espírito de Deus, e quando não podemos superar isto, devemos dizer ao Espírito Santo: “Ajuda-nos, vem, vem Espírito Santo. Ajuda-me: quero encontrar Jesus, quero estar atento, despertar”. Pedir ao Espírito Santo que nos tire desta sonolência que nos impede de rezar.

Neste tempo quaresmal, depois das dificuldades de cada dia, far-nos-á bem não apagar a luz do quarto sem nos colocarmos na luz de Deus, rezar um pouco antes de dormir. Damos ao Senhor a oportunidade de nos surpreender e despertar os nossos corações. Podemos fazê-lo, por exemplo, abrindo o Evangelho, deixando-nos maravilhar pela Palavra de Deus, porque a Escritura ilumina os nossos passos e faz arder o nosso coração. Ou podemos olhar para o Crucifixo e maravilharmo-nos com o amor louco de Deus, que nunca se cansa de nós e tem o poder de transfigurar os nossos dias, de lhes dar um novo sentido, uma luz diferente, uma luz inesperada.

Que a Virgem Maria nos ajude a manter os nossos corações despertos para acolher este tempo de graça que Deus nos oferece.

Educris|13.03.2022



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