Homilia na Abertura da Semana Nacional da Educação Cristã 2020

No início da Semana Nacional da Educação Cristã 2020 disponibilizamos a homilia de D. António Moiteiro, bispo de Aveiro  presidente da CEECDF, proferida durante a eucaristia a que presidiu, esta manhã, no Seminário de Santa Joana Princesa, em Aveiro

A dignidade humana não se comporá, é um dom

Homilia na abertura na abertura da Semana Nacional da Educação Cristã, Seminário de Santa Joana Princesa,
18 de outubro de 2020
Domingo XIX – Dia das Missões

 

 

1. Criar laços de fraternidade

O Evangelho de hoje situa-nos no coração das polémicas que Jesus tem com os dirigentes do povo judeu em Jerusalém e que os evangelistas colocam no final da sua vida, antes da sua paixão (cf. Mc 12,13-17; Lc 20,20-26). Querem comprometer Jesus com as autoridades romanas e por isso fazem-lhe a pergunta “a quem devem pagar os impostos”. A questão que se coloca também hoje a nós é como dar a César o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus, sem nos alienarmos do mundo, vivendo uma espiritualidade desencarnada das preocupações e dificuldades dos homens e mulheres do nosso tempo.

O mistério da Encarnação dá-nos a chave para respondermos à pergunta dos fariseus: Deus entrou em diálogo com o homem e criou um espaço sagrado no coração da história. À imagem de Jesus, os batizados estamos chamados a criar laços de fraternidade, que quebrem os esquemas de “eles e nós, bons e maus”. A corresponsabilidade dos cristãos na procura do bem comum e no cuidado da criação, como nos propõe o nosso Papa Francisco, leva-nos a respeitar a pluralidade de opiniões e cosmovisões, maneiras diferentes de ver e estar na vida.

Não se trata de opor realidades, mas de ser criativos na vivência da fé e no compromisso com a realidade. O mundo secular e o mundo espiritual não devem “ser colocados no mesmo saco”. Na forma evangélica de estar inseridos no mundo, ajuda-nos a segunda leitura da carta aos tessalonicenses. A cidade de Tessalónica, fundada três séculos a.C. pelos Macedónios, e declarada “cidade aberta” pelo imperador Augusto, era uma cidade multicultural, de negócios florescentes, e onde residiam muitos estrangeiros, nomeadamente judeus… S. Paulo dirige-se à comunidade cristã desta cidade saudando-a na forma habitual e elogiando-a pela firmeza da fé, pelo esforço da caridade e pela tenacidade da esperança. Também nós hoje vivemos numa confluência de culturas e religiões, raças e ideologias… É assim o mundo global… E, face a todas estas novas situações, sabemos da tendência de grupos, religiões e ideologias para se fecharem em si mesmos, tentando impor um cenário de uma só cor. O Dia mundial das Missões lança a Igreja e os cristãos para horizontes de universalidade, de sairmos de nós mesmos e irmos ao encontro dos outros para lhes anunciarmos a Boa Nova de Jesus.

2. “Eis-me aqui, envia-me”

A mensagem do Papa Francisco vai buscar ao profeta Isaías o lema para este ano: «Eis-me aqui, envia-me» (Is 6, 8). É a resposta, sempre nova, à pergunta do Senhor: «Quem enviarei?». Da mensagem para este dia realço esta passagem: «A nossa vocação pessoal provém do facto de sermos filhos e filhas de Deus na Igreja, sua família, irmãos e irmãs naquela caridade que Jesus nos testemunhou. Mas, todos têm uma dignidade humana fundada na vocação divina a ser filhos de Deus, a tornar-se, no sacramento do Batismo e na liberdade da fé, aquilo que são desde sempre no coração de Deus.

Perguntemo-nos: estamos prontos a acolher a presença do Espírito Santo na nossa vida, a ouvir a chamada à missão quer no caminho do matrimónio, quer no da virgindade consagrada ou do sacerdócio ordenado e, em todo o caso, na vida comum de todos os dias? Estamos dispostos a ser enviados para qualquer lugar a fim de testemunhar a nossa fé em Deus Pai misericordioso, proclamar o Evangelho da salvação de Jesus Cristo, partilhar a vida divina do Espírito Santo edificando a Igreja?»

3. “Fortalecer e apoiar a família, Igreja doméstica”

Com a Eucaristia de hoje damos início à semana nacional da educação cristã com o tema “Fortalecer e apoiar a família, Igreja doméstica”. A força da família reside essencialmente na sua capacidade de amar e ensinar a amar. Como comunidade de fé que encontra a sua raiz no batismo e no sacramento do matrimónio, a família é chamada à santidade «Sede santos, diz o Senhor, porque Eu sou santo» (Lv 11,45; cf. 1Pd 1,16). Esta vocação à santidade concretiza-se por meio da caridade conjugal. Como refere o Papa Francisco na exortação apostólica A Alegria do Amor (cf. 315-317), a realidade humana que participa mais de perto na vida íntima e na fecundidade criadora de Deus é a família: chamados a serem imagem da comunhão que existe entre as três pessoas da Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo; eles são a imagem da união entre Cristo e a Igreja sua esposa (cf. Ef 5,32); e são eles que participam diretamente no poder criador de Deus quando geram os filhos e os ajudam a crescer.

Entre nós, refere a Nota Pastoral para esta semana, «a Catequese, a Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC) e a Escola Católica têm prestado atenção e cuidado à família, na sua missão evangelizadora, com propostas válidas para apoiar a sua missão educativa. Perante as circunstâncias presentes, e abertos à luz do Espírito, torna-se imperioso aprofundá-las e abrir caminhos para o futuro». Por isso, convido os pais a inscrever os seus filhos na catequese, a não terem medo da epidemia que convive diariamente connosco. Tentamos, por todos os meios, que as paróquias sejam lugares seguros, onde se observem as respetivas distâncias, o uso da máscara e o desinfetante. Temos de viver um certo “normal” no meio das contingências em que vivemos.

Queridos crismandos da paróquia da Vera Cruz que hoje ides receber o sacramento da Confirmação: Fazei a vós mesmos as perguntas que nos são propostas pela liturgia de hoje: Que queres, Senhor, que eu faça? Como respondo na minha vida ao teu amor? Que a nossa resposta seja semelhante à de Isaías: Confio-te a minha vida, quero ser teu discípulo e ser teu amigo, «eis-me aqui, envia-me, Senhor”.

Aveiro, 18 de outubro de 2020

+ António Manuel Moiteiro Ramos, Bispo de Aveiro e Presidente da CEECDF



Recursos:
Homília de abertura da Semana Nacional da Educação Cristã, 2020:Download Documento


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